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Tatiana Marazzi Advocacia

A perda de um ente querido é um momento de profunda dor e fragilidade. Infelizmente, em meio ao luto, muitas famílias se veem obrigadas a lidar com a burocracia e os altos custos do processo de inventário — especialmente no que se refere ao Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), popularmente conhecido como “imposto sobre herança”.

A Legislação do ITCMD: Uma Barreira para Patrimônios Pequenos e Grandes

Antes de tudo, cabe registrar que, a meu ver, a própria existência de um imposto sobre herança e patrimônio é profundamente questionável. Trata-se de uma tributação que incide justamente em um momento de vulnerabilidade e que penaliza tanto quem construiu seu patrimônio com esforço ao longo da vida quanto os herdeiros, muitas vezes despreparados para arcar com os encargos. Apesar disso, esse imposto existe e está plenamente em vigor. Enquanto o bom senso não for recuperado e os impostos sobre herança e patrimônio não forem revogados, precisamos lidar com seus efeitos de forma estratégica e consciente.

A legislação vigente do ITCMD, em diversos estados brasileiros — como São Paulo —, estabelece prazos curtos para o pagamento do imposto, sob pena de incidência de pesadas multas e juros. Além disso, a faixa de isenção costuma ser baixa, o que faz com que o tributo impacte não apenas grandes fortunas, mas especialmente as famílias com patrimônios mais modestos. Muitas vezes, essas famílias não dispõem de recursos financeiros imediatos para arcar com o imposto, sobretudo quando os bens herdados são imóveis ou outros ativos de difícil liquidez.

Considere, por exemplo, uma família cujo patrimônio é composto por um pequeno conjunto de bens — um carro, dois pequenos imóveis e modestas aplicações financeiras que não podem ser resgatadas de imediato. Diante do falecimento do titular, os herdeiros, além de lidarem com a dor da perda, se veem diante da obrigação de pagar o ITCMD. Sem liquidez suficiente e sem tempo hábil para a reorganização financeira, a situação pode se tornar rapidamente angustiante.

Inventário Judicial: Um Caminho Mais Longo e Custoso

A possibilidade de realização da escritura de inventário significa economia em tempo de dinheiro, porém, em alguns casos, como quando não há consenso entre os herdeiros, o inventário judicial torna-se obrigatório. Esse processo pode se estender por meses — ou até anos — gerando custos significativos com honorários advocatícios, custas judiciais e outras despesas. A lentidão do trâmite judicial, aliada à burocracia, pode desgastar emocional e financeiramente toda a família.

Planejamento Sucessório: A Solução Inteligente para Garantir Tranquilidade

Diante desse cenário, o planejamento sucessório surge como uma solução estratégica e preventiva para proteger o patrimônio familiar e assegurar tranquilidade aos entes queridos. Trata-se de um conjunto de medidas legais e financeiras voltadas à organização da transferência de bens e direitos após o falecimento, com o objetivo de reduzir a carga tributária, evitar conflitos e facilitar os trâmites legais.

Soluções Simples e Acessíveis

Para quem busca alternativas práticas e com boa relação custo-benefício, o seguro de vida e a previdência privada são excelentes opções. Esses instrumentos permitem a designação de beneficiários e oferecem benefícios fiscais, garantindo que os valores sejam repassados diretamente aos indicados, sem necessidade de inventário.

Outras Ferramentas de Planejamento Sucessório

  • Testamento: Permite ao titular dispor sobre a destinação de seus bens, sempre respeitando a legítima dos herdeiros necessários.
  • Doação em vida: Possibilita a transferência antecipada de bens, com ou sem reserva de usufruto, garantindo maior controle e previsibilidade.
  • Holding familiar: Estrutura societária voltada à gestão e preservação do patrimônio, facilitando a administração e a sucessão entre gerações.
  • Estruturas Offshore: Contas bancárias ou empresas constituídas no exterior, que podem ser utilizadas para proteção patrimonial, planejamento sucessório internacional e eficiência fiscal, dentro dos limites da legalidade.
  • Trusts: Instrumento jurídico típico do direito anglo-saxão, que permite a segregação do patrimônio, conferindo proteção, confidencialidade e planejamento sucessório sofisticado, especialmente quando há ativos ou interesses fora do Brasil.

A Importância da Assessoria Especializada

Cada núcleo familiar possui características próprias e desafios distintos. Por isso, é essencial contar com o apoio de um profissional especializado em planejamento sucessório, que possa avaliar o caso concreto e recomendar as estratégias mais adequadas para proteger o legado familiar.

Além disso, as normas que regem o ITCMD e outras questões patrimoniais estão em constante mudança, frequentemente com o objetivo de aumentar a arrecadação estadual. Em diversos estados, já se discute a elevação de alíquotas, a redução de isenções e o endurecimento das regras para doações e transmissões. Diante desse cenário dinâmico, manter-se bem orientado é fundamental para antecipar riscos, aproveitar oportunidades legais e evitar surpresas desagradáveis no futuro.

Não deixe para depois. Iniciar o planejamento sucessório é um gesto de cuidado e responsabilidade com aqueles que você ama. Antecipe-se e garanta segurança jurídica, economia e tranquilidade para o futuro da sua família.

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